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Uma vez eu ouvi uma história de um tubarão que tinha encalhado na Barra do Ceará. Foram enviadas equipes de reportagem para vasculhar a praia atrás do peixe. Não encontraram nada! Afinal, ninguém tinha parado para pensar que era apenas uma metáfora para o Tubarão da Barra que estava fora da elite do futebol cearense desde quando foi rebaixado em 2014. Dois anos depois, o time Coral retornou à primeira divisão e fez bonito.

 

Foi no dia 15 de dezembro de 2016 que o time Coral recebeu o anúncio de seu retorno à Primeirona. Após o Guarany de Sobral não ter entregado os documentos referentes à regularização fiscal das contas, a equipe sobralense foi rebaixada pelo descumprimento do Fair play financeiro. O Ferroviário que havia entregado tudo conforme o exigido, ganhou o direito de ascensão.

 

Ainda que o retorno levantasse dúvidas para os torcedores, o Ferroviário estreou no Campeonato Cearense no dia 15 de janeiro de 2017 tendo em frente um Clássico das Cores. Diante do Fortaleza, que era o vigente bicampeão da competição, o Tubarão da Barra apresentou não um futebol vistoso, mas eficiente. Arrancando um empate contra o Fortaleza na Arena Castelão, o Ferrim reivindicava, naquele momento, o seu lugar no pódio do futebol cearense.

 

Tido como a terceira força do futebol cearense, a campanha ao longo da competição mostrou que o Ferroviário não veio para ratificar essa alcunha. Com três vitória, quatro empates e duas derrotas na primeira fase, o Tubarão da Barra se classificou em sexto e selou o passe para as quartas de finais do Cearense. Nessa fase, jogou dois jogos contra o Horizonte, obtendo dois empates pelo placar de 1x1. Ao fim, o passe para as semifinais foi decidido nas penalidades máximas e o Ferroviário se consagrou como um dos quatros times na penúltima fase.

 

Novamente, um velho conhecido: o Fortaleza era o adversário. Mas o Ferroviário não tomou conhecimento e encabeçou uma série de três jogos sem derrotas para o Leão do Pici. Somado ao empate da primeira fase, o Tubarão chegou ao número de quatro jogos sem derrotas para o Leão. Sacramentado o passe para a final do Cearense, o Ferroviário já era, no mínimo, vice campeão.

 

A máxima do futebol é e sempre foi levantar a taça. Mesmo que não tenha sido o caso do Ferrim, chegar naquele patamar depois de 19  anos sem disputar uma final, era um verdadeiro prêmio. Após duas derrotas para o Ceará, o título ficou com o time de Porangabuçu. Mas o feito era uma realidade. Após 13 anos o time coral estava classificado de volta para a Copa do Brasil e também para a Copa do Nordeste após 18 anos.

A volta do Tubarão

Torcer algum time de futebol por influência da família é algo muito comum. Em Fortaleza, não é diferente. A paixão pelo Ferroviário foi um sentimento que o jornalista Erick Bruno herdou de seus ascendentes. Morando na mesma residência de seu avô e seu pai, desde pequeno ele teve contato com as cores corais que compõem o uniforme do Tubarão da Barra.

 

“Essa relação para mim foi muito natural. Trazendo isso do meu avô, eu fui acompanhando a história do clube e fui me envolvendo até o ponto de estar lá na arquibancada torcendo”, conta Erick. O Ferroviário é um clube de tradição em Fortaleza. Para muitos é tido como a terceira força do estado. Ter passado dois anos longe da elite do futebol cearense acabou deixando o clube nas sombras por esse tempo. Agora de volta à primeira divisão do Campeonato Cearense, mesmo que não tenha sido com a conquista do título da segunda divisão, traz um sentimento benéfico para os torcedores do time coral. “É um sentimento de felicidade porque recoloca o Ferroviário num patamar de onde ele nunca devia ter saído”, afirma.

 

Ainda que tenha alcançado posições importantes para o ano de 2018, como ter conquistado uma vaga na Copa do Brasil após 13 anos e uma na Copa do Nordeste depois de 18 anos, Erick afirma que isso, para ele, é “a volta à normalidade”. Ver o Ferroviário com o calendário cheio não é uma coisa de hoje. Na década passada isso era bastante comum.

 

Além disso, essa volta à normalidade é algo de extrema importância para o futebol jogado no Ceará. A retomada do Ferroviário promove uma despolarização de forças no estado. Deixa de ser uma disputa dualista entre forças alvinegras e tricolores. A prova é que no próprio confronto direto, o Ferroviário desbancou o Fortaleza tido como favorito.

 

O também jornalista Mário Kempes ressalta que a mudança de paradigma valoriza o futebol cearense. “Quando você expande, como fizeram Icasa, Horizonte, Uniclinic outras vezes, é algo bom, mostra que o futebol cearense tem talento e pode atrair mais investimento e mais olhares para gente”, explica Mário.

 

As conquistas também servem para encher as arcas do clube. Só por participar da primeira fase da Copa do Brasil, o Ferrim deve embolsar um valor de cerca de R$ 500 mil. Pela Copa do Nordeste, mais R$ 775 mil. Uma injeção de dinheiro que ajuda nos custos do clube. Mas qual deve ser o destino desse dinheiro? Para Kempes, de início o investimento deve ser no elenco profissional do clube. Reforçar o time é importante para que continue disputando as competições e chegando em condições de lutar por elas.

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